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Entrevista - Moacyr Scliar

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Mensagem  Cyber Sáb Mar 22, 2008 8:11 pm

Vejam entrevista concedida pelo escritor Moacyr Scliar ao Professor Wagner Lemos.

Wagner Lemos - Conte-nos um pouco sobre sua trajetória, sua infância, suas primeiras leituras, enfim suas origens...

Moacyr Scliar: Nasci em Porto Alegre, e me criei no bairro do Bom Fim, bairro de imigrantes judeus-russos, o caso do meu pai. Nossa família era muito pobre. Meu pai, homem inculto, era, no entanto um grande contador de histórias e acho que dele herdei o prazer de narrar. Minha mãe, também pobre, era no entanto professora primária e foi ela quem me introduziu à leitura. Comecei por Monteiro Lobato, continuei com Érico Veríssimo, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Clarice Lispector...

Wagner Lemos - O que o levou a estudar Medicina?

Moacyr Scliar: O medo da doença. Eu não tinha medo de ficar doente, ao contrário, até gostava, porque assim podia faltar às aulas; mas quando meus pais adoeciam eu entrava em pânico. Cheguei à medicina por esta mistura de medo e de fascínio.


Wagner Lemos - Em que momento de sua vida as profissões de médico e escritor se encontraram?

Moacyr Scliar: Na Faculdade de Medicina. Comecei a escrever histórias sobre minhas vivências como estudante, depois reunidas em um livro, "Histórias de médico em formação." Mas o tema da medicina aparece em muitas de minhas obras: Sonhos Tropicais, baseado na vida de Oswaldo Cruz, A Majestade do Xingu, inspirado no sanitarista Noel Nutels. Isto sem falar nos vários ensaios que escrevi sobre o tema.


Wagner Lemos - A temática judaica é uma constante em sua obra. Fale um pouco sobre essa relação Judaísmo-Literatura.

Moacyr Scliar: A tradição judaica é muito rica em histórias, em narrativas, e ao mesmo tempo valoriza a palavra escrita, o que explica o grande número de escritores judeus (Saul Bellow, prêmio Nobel, e recentemente falecido, é exemplo). A mim atrai particularmente o humor judaico, aquele humor melancólico que é a defesa de um grupo historicamente discriminado contra o desespero. A marginalidade em que os judeus muitas vezes viveram proporcionou-lhe um olhar original sobre a sociedade, um olhar que para o escritor é um grande recurso.


Wagner Lemos - Ainda sobre Judaísmo, o senhor é judeu praticante?

Moacyr Scliar: Não. Não sou religioso, embora respeite as pessoas religiosas. Minha aproximação ao judaísmo é cultural, é histórica e é afetiva.


Wagner Lemos - Sua obra “O Sertão Vai Virar Mar” é leitura obrigatória do vestibular seriado (1ºano) da Universidade Federal de Sergipe, fale-nos como surgiu a idéia de fazer esse romance.

Moacyr Scliar: O livro faz parte de uma coleção da Ed.Ática, cuja proposta aos autores é escrever uma história em que um clássico desempenhe papel importante. Ora, "Os Sertões" é obra fundamental para se entender o Brasil, mas, ao mesmo tempo, redigida em uma linguagem complexa, como era a linguagem literária da época. Assim como meus jovens personagens descobrem Euclides, eu gostaria que os jovens leitores também o fizessem...


Wagner Lemos - Em que fase de sua vida o senhor teve o primeiro contacto com Os Sertões, de Euclides da Cunha?

Moacyr Scliar: Na adolescência. Senti que a obra era importante, mas percebi também que era difícil.


Wagner Lemos - Sobre o Moacyr Scliar da vida pessoal... quais são os seus autores preferidos (quais deles apontaria como influência sobre a sua obra), quais os gostos musicais e até mesmo os gastronômicos? Dê aos nossos leitores um pouco dessas particularidades.

Moacyr Scliar: Meus autores prediletos: no Brasil, Guimarães Rosa, Clarice, Drummond, João Cabral; no exterior, Franz Kafka. Gosto de MPB, sou fã de Chico, Caetano e Gil, gosto de música erudita (Mozart e Bach), mas, em matéria de gastronomia, sou muito simples: prefiro comida honesta, como são os pratos típicos de nosso país.


Wagner Lemos - Como foi seu ingresso na Academia Brasileira de Letras? O que isso significou para sua vida? Quais as mudanças que ocorreram?

Moacyr Scliar: Eu não era um candidato natural à ABL. Foi a gente do RS que me incentivou a concorrer a uma vaga e foi em nome da cultura gaúcha que eu o fiz. Fiquei felicíssimo com a eleição, porque a ABL é uma grande instituição com pessoas notáveis (basta lembrar o falecido Celso Furtado), mas isto não mudou em nada minha vida: continuo sendo o cara simples que eu era.


Wagner Lemos - Como gostaria de ser lembrado no futuro?

Moacyr Scliar: Como alguém que amou as pessoas, amou seu país e sua cultura, amou a literatura, amou a medicina.


Wagner Lemos - Deixe uma mensagem para os estudantes que farão vestibular analisando sua obra.

Moacyr Scliar: Gente, é uma glória ser lido por vocês. Espero que vocês tenham tanto prazer na leitura quanto eu tive escrevendo. E espero que meus livros ajudem vocês a entender um pouco melhor a nossa realidade e a vida em geral.

Fonte : http://www.wagnerlemos.com.br/
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